Cada vez mais há discursos distorcidos em prol de uma família tradicional ou uma família progressista, mas pouco se tem falado sobre famílias estruturadas e famílias tóxicas, que pode existir tanto nas chamadas família tradicionalistas apegadas a alta moral quando as famílias que visam progresso moral e de visão social.
Famílias estruturais se refere há uma família cujo membros são autorreflexivos e trabalham em suas falhas, seja de maneira individual ou em grupo, sendo indivíduos conscientes de que há meios institucionais para resolver as falhas, como a psicoterapia ou mesmo a psiquiatria em alguns casos.
O texto de hoje, aborda a temática de famílias tóxicas e suas particularidades. Venha conosco!
Entendendo o funcionamento da família tóxica
Não necessariamente a família estrutural vai ter um pai e uma mãe comuns, podendo ser famílias monoparentais, ou mesmo sem os pais tendo os avôs como pilares e assumindo esses papéis dentro da família, ou mesmo com dois pais, ou duas mães, ou mesmo com núcleos familiares divididos pelo divórcio, o importante são os membros terem essa autorreflexão e se mostrarem proativos no cuidado familiar.
Evitando opressões, trabalhando o emocional, sendo vigilante na moral e na conduta, sendo pessoas exemplares para os outros membros da família e com a mente aberta para acolher os problemas familiares em busca de uma solução que pode ser resolvida em conjunto ou buscando ajuda externa como a psicoterapia, psiquiatria, terapeutas e/ou pedagogos.
Já a família tóxica não existe tudo isso que foi citado acima, em uma família como um todo ou no pilar da família não existe uma atitude de autorreflexão, seja por causa de bagagens anteriores vindos da família primaria ou por traumas causados ao longo da vida que não foram devidamente curados ou tratados na época do ocorrido.
A depender do trauma ou da bagagem emocional que o individuo carrega pode contaminar toda a nova família direta ou indiretamente, despejando essa bagagem emocional que se não tratada acaba por se tornar lixo emocional algo semelhante ao lixo tóxico que vai afetar os membros da família em menor ou maior grau e que pode passar para a geração seguinte.
Seria melhor exemplificar tudo isso com a história de Maria, pegando emprestado o significado esplêndido de João Cabral de Melo Neto quando se refere as muitas Marias e José neste vasto mundo. Maria nasceu em 1940 no sertão paraibano, ela era a quinta filha de uma grande família que vivia da agricultura e criação de bode, com condições de miséria profunda, ela nem tinha onde dormir, pois só havia alguns poucos panos para se deitar no chão e ela acabou por dormir encolhida na casa pequena em um banquinho perto da parede.
A jovem passou os primeiros 13 anos de sua vida dormindo em um banquinho e tendo uma vida difícil, sendo responsável por seus irmãos menores, 4 irmãos que nasceram depois dela, ela deveria ter mais irmãos menores, mas morreram pelo caminho das velhas doenças que as pessoas pobres morrem, vermes, varíola, fome e desidratação. Maria era disciplinada a base da surra diária, com um tabique ou galhos de algum pé de goiaba que ficava perto da casa dela, ou qualquer outra coisa a mão que os pais pudessem pegar para agredir os filhos.
Na época isso não era visto como agressão, mas como educação certa e de alta moral, os filhos pertenciam aos pais até estes morressem e deveriam se submeter a eles.
Um exemplo real sobre famílias tóxicas
Aos 13 anos Maria teve suas muitas surras, mas teve sorte que o irmão mais velho dela que havia fugido de casa anos atrás havia voltado com relativo sucesso (conseguia se sustentar e arranjar emprego para os familiares) e gostava muito da irmã
mais nova, a vida dela mudou e ela passou a viver com o irmão mais velho e sendo faxineira e lavadeira de roupa aqui e ali, não precisando ficar no sol quente todo o dia e nem cuidando de seus irmãos, muito menos levando surras pesadas de seus pais.
Tudo isso foi uma mudança de vida positiva para Maria, o tempo passou e Maria se casou, pensando que tinha superado os momentos difíceis da vida e que poderia começar a própria família, o que era uma obrigação enraizada na mentalidade da época, ela jurava para si mesma que seria diferente dos pais dela.
No entanto, por causa da pobreza e da época Maria nem pensou que os anos de violência poderiam permear a nova família dela, o marido não era alguém violento e ela estava bastante segura de que os seus filhos cresceriam de uma maneira diferente da dela. Maria tentou por muitos anos e não teve filhos, então ela e o marido resolveram adotar, foi a mor à primeira vista para Maria, Eloisa era uma menina risonha e faceira, loira dos olhos azuis parecia um querubim, o casal não poderia estar mais feliz.
Como Maria havia prometido a si mesma ela nunca foi violenta com a filha e a criou como se fosse o tesouro mais importante em suas mãos calejadas, mas Eloisa morreu com 4 anos de idade de desidratação por causa da diarreia. Isso devastou Maria de uma maneira que a mentalidade e o emocional dela nunca poderiam voltar a ser como antes, ela ficou abraçada ao cadáver da filha por dois dias, antes que alguém conseguisse tirar a criança dos braços dela para o enterro.
Maria que já tinha bagagem emocional pesada pela criação anterior acabou por acumular ainda mais emoções dolosas após a morte da filha, e como muitas mães, ela acabou se culpando pela morte da filha; ela deixava a filha solta demais e por isso a filha pegou uma doença lá fora e morreu em seus braços.
Após alguns anos de culpa Maria finalmente engravidou de sua primeira filha isso em meados de 1970, a alegria foi sem tamanho para o casal, mas eles não previram que Maria estivesse ainda mental e emocionalmente abalada ainda com o luto da filha falecida. Dessa vez Maria criaria a filha, Joana, de maneira diferente e qual era o único referencial de criação de filhos que ela tinha para se apoiar?
Claro, o único referencial era da sua família primaria, que exercia a violência para educar e incutir a moral, ela era menos violenta do que os avôs de Joana, mas ainda sim empregava a violência física e emocional. Maria não fazia isso consciente, ela fazia isso em rompantes de raiva, ela muitas vezes não se reconhecia, mas quando viu Joana fazer 5 anos, ela pensou consigo mesmo e na ignorância dos tempos e educacional que ela estava seguindo o caminho certo, já que a filha estava viva, assim continuou empregando a violência como educação para Joana e os demais filhos que vieram depois.
Sem ajuda psicológica Maria concebeu essa dedução sozinha, violência era educação e educação mantinha os filhos vivos, claro, prender os filhos em casa foi uma consequência ainda do luto do medo que os filhos pegassem uma doença lá fora. Não tinha nenhum ajuda profissional disponível para que Maria buscasse ajuda, a psicologia naquela época era vista com maus olhos, já que era um atestado da loucura e esse estigma infelizmente ainda é algo que a psicologia combate atualmente.
Anos depois Joana também se casou e constitui família, ela inicialmente empregava os mesmos castigos e punições que sua mãe havia empregado nela e em seus irmãos, colocava as crianças para se ajoelhar no milho ou no feijão, batia com o cinto e acreditava que a violência poderia moldar a criança para ser mais obediente.
No entanto, Joana talvez com um coração mais mole ou fazendo uma autorreflexão decidiu que esses castigos não seriam mais aplicados aos filhos, no máximo ficar trancados no quarto sem assistir televisão, era década de 1990 a sociedade já havia mudado bastante e os pensamentos das pessoas sobre educação estava sendo renovado.
Joana então baniu o castigo físico da sua nova família, rara as vezes ela levantava as mãos para os filhos, mas era bastante rígida quando lidava com o assunto e não perdia a oportunidade de usar o marido como aviso para as crianças, apesar do marido nunca ter batidos nos filhos até hoje.
Felizmente, Joana após entrar em conflito com a própria criação de sua família original e a criação familiar que ela dava aos filhos, ela tinha dúvidas e pensava poder estar errada, indo e voltando entre as punições severas e as punições verdadeiramente educativas, então ela procurou ajuda psicoterapeuta em meados de 2000 quando o poder aquisitivo teve uma melhora e a ajuda era algo possível financeiramente.
Só então, Joana percebeu que estava em ciclo de violência dentro de uma família tóxica e que ela por meio da autorreflexão e na busca de ajuda terapêutica quebrou o ciclo de violência de mais de 3 gerações.
Ninguém tem culpa de tudo isso, a avó de Joana também sofreu violência e foi criada na violência, passando para Maria, que passou para Joana e seus irmãos, sem um tratamento adequado essa névoa que cegava os membros da família nunca seria retirada dos olhos, sem admitir que precisava de ajuda profissional Joana poderia ter seguido os caminhos de Maria e a violência continuasse a ser passada para baixo.
Já Fátima, irmã mais nova de Joana, não conseguiu se livrar desse lixo emocional e pensava que a violência era normal, já que ela foi criada assim e deu “certo”, as surras eram escutadas pelos vizinhos e mesmo na rua ela não hesitava em levantar a mão para lidar com os filhos rebeldes.
A mulher não procurou tratamento, porque ela pensava estar certa, os filhos eram dela e o marido ausente não se preocupava com a situação em casa passando a maior parte do tempo fora de casa. Uma história um pouco grande, mas isso exemplifica a perpetuação da violência gerada pela bagagem emocional ou lixo emocional da família primária, que pode ser
arrastada para a próxima geração.
Por isso a psicoterapia é algo importante e ter acesso a essa ajuda é melhorar a qualidade de vida não apenas daquele que faz a consulta e o tratamento, mas de toda a família, como uma pedra jogada em um lago criando ondulações que vão atingindo tudo que estiver no caminho.
Às vezes são os filhos que vão fazer terapia e depois os pais seguem vendo o filho ficar melhor, outras são os pais que buscam ser diferente dos avôs e passam o que aprenderam sobre si mesmo, ensinando o controle emocional aos filhos através do exemplo, mas isso só é possível se o individuo buscar ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras (em alguns casos) para quebrar esse ciclo de lixo emocional. Os pais querem deixar para os filhos um caminho para que eles vivam bem e
felizes, não querem deixar para os filhos esse lixo que os impeçam de crescer e se tornarem seres humanos melhores.
Lembre-se a família é o primeiro núcleo com o qual o individuo tem contato desde o nascimento e o último na morte, é o apoio e a base no coração de uma pessoa, não importa a época da humanidade, então o cuidado familiar é algo altamente
importante. Sempre procure ajuda na psicoterapia, principalmente, se envolve o seu próprio comportamento que afeta sua família como um todo. Seja o exemplo para que a família possa ver essa ajuda e começar o processo de cura.
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